Capítulo
6
Fernanda
despiu a camisola com que estava vestida de uma forma tão naturalmente sensual
que eu fiquei de queixo caído e olhos esbugalhados a olhar para ela. Apercebi-me
a tempo da figura ridícula que estava a fazer, parecia um velho que não vê uma
mulher bonita à sua frente há uns vinte anos… Apressei-me a desfazer a cara de
idiota e pensei em algo que pudesse fazer e que me desviasse a atenção do corpo
de Fernanda.
─
Fernanda importas-te que eu use a tua maquilhagem? – perguntei-lhe fingindo que
estava a mexer no telemóvel.
─
Podes claro. Está ali o estojo com toda a minha maquilhagem, usa o que
quiseres. – Fernanda apontou para uma bolsa de tamanho médio que estava em cima
da secretária arrumada a um canto.
─
Posso maquilhar-me no teu WC? – o meu objectivo era tirar os olhos dela e do
corpo dela deslumbrante.
─
Faz como se tivesses em tua casa La.
Saí
rapidamente do quarto dela e dirigi-me ao WC. Abri a bolsa e escolhi o lápis
preto para fazer um pequeno contorno à volta dos olhos. Quando estava quase a
terminar, a Fernanda aparece na porta e eu apanhada de surpresa faço um risco
gigante no rosto com o lápis.
Fernanda
estava linda, não conseguia transformar em palavras o que estava diante dos
meus olhos. O vestido preto moldava-se ao seu corpo na perfeição, as pernas com
os músculos levemente definidos, a pele morena, os olhos quase negros, os
cabelos pretos e longos espalhados cuidadosamente pelos ombros, o rosto com uma
expressão sedutora…
─
HAHAHAHAHAHAHA. – Fernanda soltou uma gargalhada bem sonora que me despertou do
sonho.
─ O que
foi? – naquele momento não me recordava do acidente que ocorrera poucos
instantes antes.
─ Pintaste
um risco gigante no teu rosto. HAHAHAHA. Vais ter um trabalhão para conseguir
tirar isso.
Olhei para
o espelho e vi a pequena desgraça que a visão da Fernanda me tinha causado. Disfarçadamente
olhei-a pelo espelho e não pude deixar de admitir para mim própria o quanto
aquela menina me fazia desejá-la.
─ Tens
algo que me ajude a tirar isto? – perguntei já desanimada.
─ Tenho. O
desmaquilhante está dentro da bolsa. Mas aviso já que vais ficar com a pele
vermelha, porque vai ser bastante difícil conseguires limpar o risco na
totalidade.
─ A culpa
é tua, assustaste-me quando apareceste aí na porta sem avisar. – queixei-me,
mas agradeci mentalmente aos santinhos por ter tido a oportunidade de
vislumbrar tão inesquecível imagem.
─ Minha?
Não tenho a culpa que não aguentes ver-me assim… - Fernanda pegou no lápis e
começou a maquilhar-se.
─ Nem te
achas Fê… Isso não é verdade. - rapidamente senti o meu rosto ruborizar porque
sabia que ela estava certa, mas não lhe ia admitir tal coisa.
─ Aham La.
Continua a querer enganar-me que eu finjo que acredito nas tuas desculpas.
─ Não te
estou a enganar e deixa-me terminar isto, se não nem amanhã estou pronta para
ir à festa. – tentava desviar as atenções da conversa para evitar mais
constrangimentos da minha parte.
Fernanda
tinha acabado de se maquilhar e esperava por mim que ainda tentava tirar o
risco da minha cara. Assim que consegui
eliminar a sujidade do meu rosto, continuei a maquilhar-me enquanto Fernanda
olhava para mim encostada na porta. Após dar os retoques finais nas pestanas, e
de as deixar como queria, a Fernanda decidiu abandonar o local onde aguardava
tranquilamente e veio na minha direcção.
─ Posso
dar o toque final? – ela questionou-me.
─ Podes,
mas o que queres fazer? – perguntei desconfiada.
─ Dá-me o
lápis preto e confia em mim…
Assim que
lhe passei o lápis preto para a mão, ela risca-me a ponta do nariz. Olhei-a
espantada, porque não esperava aquela atitude dela. Caímos as duas numa gargalhada
contagiante e não conseguíamos parar. Quando finalmente conseguimos acalmar-nos,
Fernanda aproximou-se de mim e limpou o risco que tinha sido feito por ela
mesma.
Ouvimos a
campainha tocar e já sabíamos que era Maria. Fernanda correu o mais rápido que
pôde, uma vez que estava de saltos, para abrir a porta e deixar Maria entrar.
─ Prontas
meninas? Ou andaram a divertir-se na minha ausência? – a última pergunta foi
realizada num tom perigoso que escondia safadeza por detrás.
─ Sim,
estamos prontas. Deixa-me ir buscar o casaco e a mala que logo vamos para a
festa. – Fernanda rapidamente pegou as coisas no quarto e voltou.
─ Vamos
logo que eu quero ir beber, dançar e beijar. Não exactamente nesta ordem é
claro. – dito isto Fernanda piscou-me o olho e Maria puxou-me para fora de casa
na direcção da garagem.